Uma parvoíce que se revelou uma boa surpresa
Comprei O Último Eça de Miguel Real convencida que era um romance. Não me perguntem porquê, porque não tenho resposta. Custou apenas €3.00.
Este ano, ao separar os livros "elegíveis" para 2017, enquanto tentava perceber o que realmente tenho, olhei para ele com mais atenção e tomei consciência que era um ensaio sobre as obras dos últimos anos da vida do autor.
Logo decidi que iria parelhar a leitura deste com a do Crime do Padre Amaro.
Ontem, ao ler algumas páginas na diagonal, fiquei completamente agarrada. É fascinante.
Particularmente instrutiva, foi a leitura das diferentes propostas de periodização da obra de Eça de Queiróz, por parte dos estudiosos da literatura queiroziana.
Assim, o romântico na juventude, depois revolucionário e panfletário de estilo naturalista-realista até 1880 (publicação de O Mandarim, 3ª versão de O Crime do Padre Amaro), fase de indecisão, de novas leituras e influências com abandono do naturalismo puro até 1888 (Os Maias), o verdadeiro Eça finalmente revelar-se-ia a si próprio nas obras constantes da última fase (1888-1900), já compatibilizado, pela idade, pelo casamento, pela paternidade, pela adesão ao idealismo, pelo estatuto social e profissional (cônsul de 1ª classe em Paris, não na tropical Havana, na industrial Newcastle ou na comercial Bristol), pelas novas amizades (grupo de "Os Vencidos da Vida"), com os antigos valores do velho Portugal.
Não tenho dúvidas que encontrei neste O Último Eça de Miguel Real, as bases para uma leitura mais intencional (e adulta) de Eça de Queiróz.