Uma entrevista brutal
É fácil perceber que, hoje, um cozinheiro é mais importante do que um poeta ou um filósofo. Só isso já é absolutamente incrível. Lembro-me do Sartre ter visitado Coimbra, no pós-25 de Abril, e de como aquilo foi um acontecimento que nos deixou electrizados. Hoje, se o Sartre viesse cá (alguém dessa craveira), não tinha qualquer impacto. E é por aí que se explica a crise da intelectualidade.
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Note-se que uma das primeiras coisas que as políticas neo-liberais fizeram foi destruir a contratação colectiva. Porque isso tem também um valor simbólico. Deixa de haver contratos colectivos, só há contratos individuais: é cada um por si. Isto leva a uma sociedade que antecede o holocausto.
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Se passar na Rua Garrett e perguntar aos rapazes que estão ali a pedir moedas… Já o fiz. Uma vez a um que estava perto da Bertrand: “Epá, diga-me lá: porque é que tem aqui três cães?” E ele - que era húngaro - disse-me: “Se não tiver cães não me dão esmola.” É interessante, não é? Portanto, a quem damos a moeda é ao cão. Não damos a moeda ao sem-abrigo, ao mendigo, etc.
Vasco Santos, Jornal I