Os livros são como as cerejas
Não estou a gostar de ler A obra ao negro de Marguerite Yourcenar. Estou a achar confuso (imensas personagens), pouco fluído e pouco interessante. Vou na página 90 ou qualquer coisa do género. Se não me prender até à página 150 (barreira psicológica), vai ser encostado - a vida é demasiado curta.
Passei pela biblioteca e finalmente apanho um livro que desejava ler: A Cidade das Mulheres de Christine de Pisan (1364-1430) considerada a primeira escritora profissional.
E este pequeno livrinho de 142 páginas começa assim:
Um dia, estando eu sentada na minha sala de leitura, rodeada de numerosos livros de diferentes espécies, pois há algum tempo que adquirira o hábito de me lançar em busca do conhecimento, comecei a sentir a minha mente fatigada pelo dia passado a lutar com os pesados tomos dos vários autores que andava a estudar. Olhei em redor e decidi que ia, ao invés, pôr de parte todos estes textos difíceis e procurar, entre as obras dos poetas, algo divertido e fácil de ler.
O que sei deste livro é que se trata de um texto sobre a condição da mulher e que se mantém incrivelmente actual, apesar de ter sido escrito no séc. XV.
Interrogava-me acerca das causas e das razões que levavam tantos homens, tanto letrados como outros, a dizerem e a escreverem coisas tão horríveis sobre as mulheres e a sua conduta. Não se trata apenas de um ou dois escritores, nem tão pouco só este Matheolus, cujos livros não são de confiança nem pretendem ser levados a sério. Muitos filósofos, poetas e oradores, demasiado numerosos para serem mencionados, parecem estar de acordo em dizer que a natureza das mulheres é intrinsecamente má e inclinada à imoralidade.