O cônsul desobediente, Sónia Louro
E pensava eu que conhecia a história.
Este não é um romance qualquer. Sónia Louro fez um trabalho exímio de investigação e soube resistir à tentação de dourar a pílula.
O Aristides de Sousa Mendes que descobri ainda é mais heróico que o imaginei, precisamente pelas imperfeições que tinha.
Todas as controversas: processos disciplinares, apropriação de dinheiros públicos, infidelidade estão primorosamente tratadas. É precisamente, a humanidade muito terrena de um homem sempre com pouco dinheiro, para sustentar uma extensa prole, que torna tão extraordinário que tenha recusado o ouro e diamantes que tantos refugiados lhe terão oferecido.
Aprendi que ele fez mais do que assinar livremente vistos no seu consulado, pois foi a outro consultado e até aí assinou, enganando as autoridades locais. Quando até daí o expulsaram (descobrindo o engodo) foi para uma praça e assinou o que lhe colocavam na frente.
Actos de extraordinária coragem.
(...) será interessante relembrar uma lenda do Talmude: os trinta e seis justos, ou Lamed Vav Tzadikim. Segundo a tradição judaica, existem trinta e seis seres humanos justos em cada geração. A sua função, sem saberem, é justificar perante Deus a existência do Homem, sendo pelos seus actos nobres que o mundo se mantém. É por causa deles que Deus poupa a humanidade. Eles são indivíduos comuns, humildes, de uma bondade excepcional, sacrificam-se em favor de outros e evitam que o mal aconteça às pessoas à sua volta. Eles provam a Deus que podemos ser bons e puros. (...) Aristides de Sousa Mendes não terá salvo a humanidade, apenas 30 mil pessoas, mas por outro lado, também segundo o Talmude: "Quem salva uma vida, salva todo o Universo"
Sónia Louro em nota final
Aristides de Sousa Mendes, Carlos Sampaio Garrido (também diplomata) e o padre Joaquim Carreira, são os únicos portugueses com a medalha de “Justo entre as Nações”, atribuída pelo Yad Vashem - Autoridade Nacional para a Memória dos Mártires e Heróis do Holocausto.