Guarani - José de Alencar
José de Alencar (1829-1877) é um autor de referência da literatura brasileira, do período romântico. Segundo a Claire Scorzi, é um autor lido na escola.
Os críticos referem que a obra de José de Alencar que se divide por três grupos: romance histórico com a temática do indianismo, o romance urbano muito em torno da temática do amor e da situação social e familiar da mulher e o romance regionalista representativo das diferentes regiões que dividiam o Brasil.
Guarani é "o mito do bom selvagem, da pureza do americano em contraste com a dureza e a ambição desenfreada e sem escrúpulos do branco europeu".
A história situa-se no interior do Brasil, na segunda metade do séc. XVI. D. António de Mariz é um fidalgo português, movido por um código de honra da cavalaria. Tem uma filha angelical, Cecília, amada/disputada/adorada por três homens, cujos amores irão determinar o destino da história.
Um desses homens é Peri que adora Cecília, como a personificação da virgem Maria na Terra e que tudo faz para a agradar e proteger. Cecília, uma jovem de 16 anos que não conhece a vida para além do domínio da casa onde vive, trata Peri como um animal de estimação.
O segundo homem, D. Álvaro, ama Cecília e entretém a ideia de casar com esta, ainda por cima com o assentimento de seu pai. É amado por Isabel, prima de Cecília e uma mestiça que se suspeitava ser filha ilegítima de D. António e uma índia.
O terceiro, Loredano, um aventureiro que procura um tesouro escondido nas terras brasileiras e planeia matar toda a família, para poder possuir Cecília.
Como se não bastasse este quarteto amoroso, temos ainda o filho de D. António que mata acidentalmente uma índia, o que determina o desejo de vingança de uma tribo violenta que irá invadir a casa senhorial.
Confesso que este não foi um dos meus livros preferidos, embora deseje continuar a ler as obras do autor. Embora destaque a superioridade intelectual do índio, este está sempre subjugado aos seus sentimentos por Cecília e esta é pouco mais que uma adolescente reduzida a ser bondosa, mas mimada e pouco consciente dos seus actos.
- Mas tu não és escravo!... - respondeu Cecília com um gesto de contrariedade-; tu és um amigo sincero e dedicado. Duas vezes me salvaste a vida; fazes impossíveis para me veres contente e satisfeita; todos os dias te arriscas a morrer por minha causa.
O índio sorriu.
- Que queres que Peri faça de sua vida, senhora?
- Quero que estime sua senhora e lhe obedeça, e aprenda o que ela lhe ensinar, para ser um cavalheiro como meu irmão D. Diogo e o Sr. Álvaro.
E num autor romântico não poderia faltar o tratamento da mulher tão característico: a angelical loura e o pecado original que pesa sobre todas as mulheres:
Cecília era uma menina ingénua e inocente, que nem sequer tinha consciência do seu poder e do encanto de sua casta beleza; mas era filha de Eva, e não podia se eximir de um quase nada de vaidade.
Isto é um livro de aventuras. O que me impressionou no livro foi a imaginação do autor para criar situações.
Peri mostra-se sobre humano e genial. O plano dele para, sozinho e sem armas, matar centenas de índios da tribo que tenta tomar de assalto a casa senhorial é absolutamente brilhante e prendeu-me, página após página.
É pelo conjunto que desejo voltar a José de Alencar.
Obra em domínio público, disponível em pdf no Portal Domínio Público, do Governo Brasileiro.