Frankenstein ou o Prometeu Moderno de Mary Shelley
Quem era eu? O que era eu? A pergunta voltava, constantemente ao meu espírito, sempre sem resposta.
Gostei bastante de Frankenstein ou o Prometeu Moderno de Mary Shelley. Confesso que algumas partes, excessivamente descritivas foram "saltadas", ainda assim, um fantástico livro.
Este título, desde logo, surpreendeu-me. Primeiro assumi que Frankenstein era a criatura. Não é, é o criador.
Depois, estranhei a referência a Prometeu. Certamente se recordarão dele, um titã da mitologia grega, "um defensor da humanidade, conhecido por sua astuta inteligência, responsável por roubar o fogo de Héstia e o dar aos mortais". Foi castigado por Zeus, que o deixou "amarrado a uma rocha por toda a eternidade enquanto uma grande águia comia todo dia seu fígado - que crescia novamente no dia seguinte." (Wikipédia)
Esta referência a Prometeu aguçou-me a curiosidade. Mas a leitura traria-me a resposta:
Sentia a impressão de ter rompido com a humanidade; todavia, mesmo assim, gostava dos homens até à adoração; e, para salvá-los, decidi consagrar-me ao meu trabalho detestado.
Confesso que preferia uma visão alternativa, em que este Prometeu/Frankenstein é defensor daquilo que criou através da "centelha da vida". Porque na verdade, esta criatura é humana, mas um humano adulto vazio de tudo que não sejam os mais elementares instintos: frio, calor, fome, sede, saciedade. A aprendizagem de tudo o resto, surge depois, na convivência com os restantes humanos:
Em tempos esperei em vão encontrar seres que, perdoando-me a minha forma exterior, me amassem pelas excelentes qualidades que pude demonstrar. Alimentei-me com pensamentos elevados de honra e devoção. Mas agora o crime degradou-me abaixo do animal mais inferior.
(...)
Todavia, não me submeterei a uma escravatura abjecta. Vingar-me-ei dos ultrajes recebidos; se não posso inspirar o amor, inspirarei o medo! Tu, sobretudo, acautela-te com o meu ódio, trabalharei em tua perda e só pararei quando te destroçar o coração a ponto de amaldiçoares a hora do teu nascimento.
O ódio gera o ódio. Acredito nisso.
Há muitos anos encontrei uma frase à qual não consigo atribuir a autoria: se o teu filho morresse nos teus braços por falta de medicamentos, também tu não quererias explodir o mundo? Foi nessa frase que pensava enquanto lia este livro. Que temos o mundo que construímos.
Fiz uma leitura compartilhada com a autora do blog A mulher que ama livros.
Podem ler a sua opinião AQUI.
Ver também a discussão colectiva do Fórum Entre Pontos e Vírgulas no dia 25 de Outubro.