Anna Karenine - Liev Tolstói
Nos anos 50, José Saramago traduziu Ana Karenine para o português, a partir do francês. E em 2019 eu percebi que tinha essa tradução, na minha colecção de clássicos publicada pelo Jornal de Notícias.
Anna Karenine, de Liev Tolstói foi o mega clássico que pensei que iria ler, juntamente com outros membros da comunidade booktube, durante o mês de Agosto. Quando isso não se concretizou, decidi ler sozinha. Afinal de contas, era o meu primeiro grande clássico russo e aquele que tem uma das mais famosas primeiras frases da literatura:
"Todas as famílias felizes são iguais, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira"
No centro do romance estão três casais: Ana Karenine e o seu amante, o Conde Alexei Vronsky; Levine e a sua jovem amada Kitty; Stepan Oblonsky e a sua esposa Dolly.
O romance começa com a ruptura entre o casal Stepan-Dolly, fruto da infidelidade do primeiro, que leva a uma visita de Ana Karenine, sua irmã, que tentará a reconciliação.
Dolly é uma mulher que ama o marido e que, por isso, sofre amargamente com as suas traições (a última com a perceptora das crianças), com o peso das sucessivas gravidezes e a educação dos filhos.
Levine ama Kitty, que por sua vez está enamorada do Conde Alexei Vronsky. Por isso, quando Levine a pede em casamento, esta recusa, causando grande sofrimento ao proprietário e agricultor.
Porém, o galante Conde Alexei Vronsky, assim que vê Anna Karenine, apaixona-se por esta e afasta-se de Kitty, deixando a jovem humilhada e sem pretendente.
Anna Karenine, por sua vez, faz o impensável para a época e abandona o filho e o marido para ir viver com Alexei Vronsky, de quem engravidou entretanto. O sofrimento de Anna Karenine, pelo afastamento do filho e ostracizada pela sociedade e até família é quase uma personagem com vida própria.
A dupla Anna/Alexei é considerada o cerne da história, mas honestamente, foi por Levine que me apaixonei. As suas dificuldades em se reconciliar com a rejeição, o seu amor por Kitty, a dedicação ao trabalho, às condições das suas propriedades (nem sempre com resultados positivos), os seus dilemas morais e a sua resistência à modernidade são o fio condutor de uma personagem incrivelmente rica e bem desenvolvida.
Levine é o meu herói nesta história, imperfeições e tudo.
Existe uma boa dose de história e filosofia, ou não estivesse a decorrer durante as reformas liberais que extinguiram a servidão dos camponeses russos.
A leitura foi bastante mais fluída que imaginava. Depois de um arranque lento, só as horas para dormir me obrigavam a parar.
O calhamaço de 700 páginas não me impressionou fortemente, confesso. É um incrível exemplo do realismo, mas quem tem um Eça...