A rapariga que roubava livros - Markus Zusak
Terminei ontem o A rapariga que roubava livros de Markus Zusak num absoluto pranto. Nem me recordo a última vez que li um livro que me tivesse afectado desta forma.
Confesso que o iniciei com expectativas tão altas que senti que o livro não era assim TÃO brilhante.
Markus Zusak tem uma forma muito particular de nos entregar a história de cada personagem, frequentemente dizendo-nos como ela irá terminar, antes sequer de nos dar a conhecer quem são. E considerando que a narração é feita pela Morte, nem sempre isso é um bom sinal.
Se tivesse que escolher um sentimento que mais me marcou em todo o livro, escolheria a culpa. É a culpa dos sobreviventes. É a culpa dos que querem viver, mesmo à custa de soterrarem dentro de si outros valores. É a culpa dos justos que não conseguem ser justos, por força das circunstâncias ou por (tão) humana fraqueza.
Confesso que só a terminar o livro senti que realmente era um livro magnífico, numa perspectiva que raramente vemos e que tem uma impressionante lucidez.
Tive a sensação que este livro pode ser lido com o Diário de Anne Frank e com Persepolis de Marjane Satrapi. São duas perspectivas da 2ª GGM e uma muito mais contemporânea (a ascensão do radicalismo religioso). No fundo, três faces da mesma moeda. Não me enganei. Não acredito que e enormidade da crueldade humana possa ser explicada por uma dualidade certo/errado ou bom/mau. Nesta moeda, as duas faces não são suficientes.
Terminei o livro a chorar e a revalidar a minha decisão de nunca visitar um campo de concentração. Não iria conseguir controlar a emoção. Mas pensando bem, não imagino um sentimento mais condizente com um campo de concentração que a sensação de esmagamento causada pelo sofrimento alheio.