A história de uma serva - Margaret Atwood
Há livros que precisam de tempo de reflexão. Curiosamente, este era um livro há muito desejado e que foi sendo adiado. Por razão alguma, ou a mesma de sempre: tantos livros, tão pouco tempo.
Esta distopia, ao contrário do habitual, não é num futuro longínquo e repleto de ficção científica. Num futuro próximo, em que as personagens têm ainda as suas memórias de viver em liberdade, vive-se uma teocracia. As mudanças são graduais mas contínuas. Um dia, as mulheres deixam de poder trabalhar, as suas contas bancárias são congeladas e só podem ser movimentadas pelos seus maridos. Uma mera transição, afinal de contas o dinheiro não está perdido. Depois, impõe-se outro serviço a mulheres - as férteis devem procriar para as inférteis - passam a servas.
Conhecem a história do sapo que coze em lume brando? Se o largarem em água a ferver, ele vai saltar, mas se aquecerem lentamente a água, ele irá morrer porque quando a água for demasiado quente, será tarde demais.
O problema com as ditaduras é que começam sempre pelos outros, e enquanto nos vamos sentindo seguros por não sermos os outros, o perigo vai-se aproximando, até ser tarde demais.
A ler, a reler e ler novamente.