A Casa e o Mundo - Rabindranath Tagore
Eu não conhecia Rabindranath Tagore, até me ser recomendado por um colega indiano. Nascido em Calcutá, em 1861, seria o primeiro não-europeu a vencer um prémio Nobel da literatura, em 1913. Para perceberem a sua dimensão, Tagore estará para a Índia como Camões está para Portugal.
Tagore nasce sob o domínio do império britânico, mas o amigo de Gandhi será aquele que escreverá o hino nacional da Índia (e também do Bangladesh).
A Casa e Mundo, reflecte precisamente o seu apoio ao movimento nacionalista indiano, com grande enfoque no swadeshi, um movimento dentro do movimento independentista, que tinha como objectivo o desenvolver de uma indústria indiana, que fosse capaz de fazer face ao poder económico do Império Britânico.
As práticas desse movimento consistiam em medidas proteccionistas de produtos indianos e boicote a produtos importados (especialmente britânicos), medidas que poderiam ir de um compromisso em apenas vestir indumentária de produção indiana até formas violentas de implementar esses boicotes, nomeadamente com ataques a vendedores de produtos estrangeiros.
Esta componente histórica de A Casa e Mundo foi o que mais me agradou neste pequeno livro de apenas 155 páginas, pese embora a escrita lírica de Tagore ser belíssima.
A Casa e Mundo encontra-se dividida em três narrativas que correspondem às três personagens centrais: Bimala, seu marido Nikhil e o amigo deste Sandip. Em todo o enredo teremos Bimala dividida: entre o seu papel de esposa e de musa política, entre a tranquilidade da sua relação com Nikhil e a bajulante adoração de Sandip, entre a modernidade e a tradição.
Como a casa, também o mundo destes três se encontra dividido, como vamos assistindo, nas discussões entre Nikhil e Sandip, que reflectem diferentes atitudes dentro do movimento independentista indiano, mas também na ética.
Mas se há aqui um grande enfoque ao contexto histórico e cultural (Bengala no início do séc. XX), nas três perspectivas narrativas temos personagens de uma complexa dimensão psicológica.
Um excelente exemplo de o quanto podemos sair mais enriquecidas de leituras mais diversas.